Antônio Wanghon

 

Serenatas, festivais, corais de igreja para Antônio Rocha Waughon, ou Antônio Von como era mais conhecido, a música era vida! Com uma voz imponente, o cantor que nasceu no dia 10 de novembro de 1944 na vila de Belterra, então distrito administrativo do município de Santarém, tinha uma relação especial e carinhosa com a música. 

 

Filho de Raimundo (Dico) Waughon, gerente de serraria e da dona de casa Maria Julieta Rocha Waughon, o cantor era o penúltimo filho dos nove do casal e o caçula dos homens. Quando garoto, Antônio gostava de cantar em um camburão para escutar o eco e a acústica da sua própria voz. Na adolescência frequentava a igreja católica da comunidade e essa vivência o aproximou do coral da casa onde começou a se apresentar. 

 

Antônio Von era cantor (tenor) de primeira linha, tinha uma voz grave e que se adaptava perfeitamente ao reportório que ele cantava, sobretudo as canções românticas as quais ele tinha predileção, ao lado das regionais. Era fã de Vicente Celestino famoso intérprete da chamada época de ouro da música brasileira.

 

Em 1964, aos 20 anos passou a integrar o Conjunto Musical Tapajoara, organizado e dirigido por Vicente Malheiros da Fonseca. O grupo foi criado com o objetivo de ajudar o Clube Paroquial Imaculada Conceição a promover shows e angariar recursos para obras sociais da diocese de Santarém. 

 

Ao longo de 50 anos, Antônio Von participou de diversos outros conjuntos musicais que tocavam em bailes e shows, inclusive na casa de espetáculos “Cristo Rei, nos programas “Domingo após a Missa” e “E-29 Show”, conduzido pelos radialistas Osmar Simões, Ércio Bemerguy e Edinaldo Mota, em Santarém. Compôs mais de 150 músicas e gravou alguns discos.

 

A música também foi o elo de ligação para encontrar o amor da sua vida, Marlene Matos. O casal acabou se conhecendo no coral da Igreja de São Raimundo, no bairro da Aldeia em Santarém. Com ela teve três filhos: Jules Benon, Tonye Gil e Hilde Leno.

 

A família era para Antônio uma das suas maiores conquistas, inspiração e encanto para o seu cantar. Graduado em Administração de Empresas, foi durante muitos anos servidor da Justiça do Trabalho da 8ª região, tendo atuado na Secretaria da 1ª Vara do Trabalho em Santarém.

 

O cantor participou de inúmeros eventos culturais em Santarém, Belém e Porto Alegre (RS). Cantou em igrejas, casamentos, festivais, roda de amigos, bailes e serestas. Cantar pra ele era diversão e algo que ele fazia com muito prazer.

 

Em 1970, o cantor participou do 1º Festival da Música Popular do Baixo Amazonas. O evento, um dos maiores da região teve 245 composições inscritas sendo: 137 no gênero Música Popular Brasileira (MPB), 86 no gênero Iê-iê-iê (música jovem) e 22 Regionais e folclóricas. Conforme o regulamento os candidatos deveriam se inscrever utilizando um pseudônimo, e o de Antônio Von era Tom Hules.

 

Os espetáculos públicos foram realizados nos dias 12,15,17 e 19 de dezembro de 1970. A final do Festival aconteceu no Cinema Olímpia, de Santarém, com enorme sucesso e com a presença de numeroso público que lotou as dependências daquela casa. O evento foi transmitido, ao vivo, pela Rádio Rural de Santarém.

 

Sobre o pseudonônimo de Ton Hulles foram inscritas 4 músicas: “Solidão fria no Quarto”, “Não chore mais amor”, “Gritei, falei, chorei” na categoria MPB e “Corrida” no gênero regional. Na seletiva de 05 de dezembro de 1970 as três músicas inscritas no segmento MPB foram classificadas entre as 15 selecionadas para a final. Já “Corrida” ficou entre as cinco selecionadas na seleção de 12 de dezembro.

 

A Comissão Julgadora do Festival era formada pelo Maestro Waldemar Henrique (Presidente), Wilson Fonseca (Maestro Isoca), Wilde Fonseca (Maestro Dororó), Emir Bemerguy, Isaac Dahan, Avelino do Vale, Nélia Vasconcelos Dias, Sebastião Ferreira, Edenmar da Costa Machado (Machadinho), Cecília Simões e Vicente José Malheiros da Fonseca. O acompanhamento musical ficava ao encargo do Conjunto “Os Hippies”.

 

Antônio Von venceu no gênero “Tema Regional/Folclórico”, com a música “Corrida”, recebendo pelo primeiro lugar o Prêmio Governador Alacid da Silva Nunes (CR$ 1.000,00) e o Uirapuru de ouro, além de uma medalha. Uma curiosidade: o Uirapuru foi escolhido como símbolo do 1º Festival da Música Popular do Baixo Amazonas por ser um passarinho que é um cantor por excelência nas nossas florestas liricamente povoadas por múltiplas variedades de seresteiros alados e coloridos. 

 

Em 1972, o tenor participou como uma das atrações da “Semana de Santarém”, evento artístico-cultural realizado no Theatro da Paz em Belém que contou com a presença e o apoio do Governador do Estado do Pará, Fernando Guilhon. Antônio Waughon cantou “Louco de Amor” (ou “Canção de um vagabundo”), acompanhado, ao piano por Wilson Fonseca (Maestro Isoca).

 

No ano seguinte, em 8 de dezembro de 1973, Antônio Von estava entre o grupo de artistas santarenos que se apresentaram com enorme sucesso, em Porto Alegre (RS), a convite e patrocínio da VARIG e da Companhia Rubem Berta. O concerto dos artistas de Santarém foi coroado de pleno êxito diante de uma casa lotada e de uma plateia que aplaudiu as apresentações de maneira fervorosa, sendo o espetáculo encerrado com músicas de carimbó, tendo Von a frente.

 

Em outubro de 2010, Antônio Von foi homenageado com o título honorífico de Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Santarém pelos relevantes serviços prestados ao município.

 

Por conta de uma infecção por bactéria, causada por uma pneumonia viral do Covid, Antônio Von, acabou falecendo em 22 de novembro de 2021, aos 77 anos em Santarém. A data da sua morte é Dia do Músico e de Santa Cecília, padroeira dos que se dedicam a arte de cantar.

 

Texto: Dannie Oliveira

Fontes: Vicente Malheiros da Fonseca, Edinado Rodrigues, Academia de Letras e Artes de Santarém e Coleção Meu Baú Mocorongo (Wilson Fonseca)